Extractos del Capitulo “A Criação do Kibutz Hachshará” parte del libro “Bror chail – história do movimento e do kibutz brasileiros”. Escrito por Evyatar Friesel.
Link al capítulo y libro completo http://makash.org.il/dev/brorchail
A Criação do Kibutz Hachshará
O CRIAR um Kibutz Hachshará (kibutz de preparação) foi resolvido em agosto de 1948. Mais de meio ano decorreu antes que tudo estivesse pronto, a organização do primeiro grupo (garin), a escolha do local, o reunir meios financeiros. No comêço de 1949 deu-se a inauguração oficial do Kibutz Hachshará "Ein Dorot" (A Fonte das Gerações), situado a 80 km. de São Paulo. O 2° Congresso Nacional do movimento resolveu, apesar de tudo, a criação de nossa hachshará.
NA HACHSHARÁ: OS INCIDENTES –
A HACHSHARA do primeiro grupo é sempre algo mais pitoresco que a dos grupos vindos depois, não?
- Hmm, se você quer chamá-lo de pitoresco ... Bem, realmente é uma coisa diferente. A gente chega a "Ein Dorot" sem coisa alguma, sem experiência - e lembre-se, nós éramos a primeira hachshará que se fundava no Brasil - sem planos e com bem poucas idéias de por onde começar. Ah, sim, é verdade: na cabeça, uma idéia teórica de como deve ser um kibutz. '. Pensa que é pouco? Não é tão pouco assim.
- Soube que houve muitas hesitações antes de comprar o terreno onde foi instalada a hachshará. As condições não eram boas?
- A localização geográfica da hachshará) por exemplo, era excelente. Mas quanto às terras, houve divergências entre os agrônomos. No fim resolvemos comprá-la, mas durante anos tivemos dores de cabeça. - As terras se dividiam em dois tipos: terrenos de várzea, muito bons, mas sujeitos à inundações na estação das chuvas. E terras mais elevadas, que não inundavam mas eram pobres demais para agricultura. Além disto, as habitações eram casebres caboclos, de pau e barro, cobertos de sapé. Mas tarde descobriríamos que a água era contaminada de amebas. Periodicamente havia ataques de formigas. A sáuva, nunca conseguimos exterminá-la completamente; ela, porém, não nos prejudicava tanto. Mas as formigas negras da várzea eram capazes de liquidar uma plantação inteira numa noite só, se conseguissem instalar-se convenientemente.
- Como se arrumaram com o trabalho nos primeiros tempos? Quem os orientava?
- Os vizinhos, caboclos que possuiam pequenos sítios, ajudaramnos muito. Também um agrônomo judeu de São Paulo colaborou no começo. Mais tarde veio Senda, nosso companheiro japonês, primeiro como visitante, logo mais como instrutor agrícola, e tendo-se ligado ao grupo, resolveu prosseguir com êle, transformando-se, então, em chaver, e hoje está já em Bror Chail. Fora disto, nem todos nossos companheiros vêem da cidade, havia também agricultores natos, das colônias judaicas do sul. E hoje, os shlichim (enviados) de Bror Chail ao Brasil ajudam muito na orientação da hachshará.
- Você, no comêço, falou dos vizinhos, disse que êles colaboraram muito. Qual foi a reação dêles ao vê-los instalar-se em Ein Dorot?
- Ah, foi uma sensação! Ninguém entendia direito aquêles "estudantes" da cidade, que de repente se metiam a lavradores, entre os quais havia inexplicáveis relações de igualdade, onde ninguém recebia dinheiro. - "Magina mecê, trabaiá di graça!" - Era o fim do mundo! Mas tratava-se de gente boa, simples,· alguns brasileiros, alguns portugueses, alguns japoneses. O novo grupo, que fazia fogueiras à noite7 que dansava e cantava, onde reinava um ambiente alegre, e se nem sempre alegre, sempre vivo e animado, os atraiu, pois em geral levavam uma vida muito isolada e monótona. Nós os recebemos com simpatia, sentamos seus filhos entre nós, conseguimos estabelecer boas relações com todos, e verdadeira amizade com alguns. No fim, era usual, nas fogueiras das noites de verão, encontrar uma carinha de japonês ou de mulato entre os chaverim.
- E como vocês lhes explicavam vossas finalidades?
- Não explicávamos. Que nos preparássemos para emigrar, era rigoroso segrêdo. Inventamos uma porção de histórias.
- E nunca transpirou nada?
- Bem, como dizer ... Vou contar-lhe um fato acontecido: Estávamos já há alguns meses em hachshará, quando veio um visitante de São Paulo conhecer nosso kibutz. Em São Paulo, haviam-no prevenido para não fazer perguntas a ninguém, durante a viagem. Em Jundiaí êle entrou no ônibus de roça que passa pela hachshará, e pediu discretamente ao chofeur que lhe avisasse quando chegassem ao "sítio do quilómetro 16". A cara do bom homem se iluminou: "- Ah, o sitcho daqueli pessoar que tá se preparano prá i prá Palichtina? " O nosso visitante não se refizera bem da surprêsa, quando ouviu, do fundo do ônibus, um bando de moleques, brancos, pardos, amarelos, cantando: "Ei nivnei hagalila, ei nivnei hagalil .. ." - Eram os filhos de nossos vizinhos.
- Bem, mas complicações nunca houve, não?
- Não houve? Não houve poucas! Imagine que certo sábado (trabalhávamos no domingo, e no sábado descançávamos) estamos indo, eu e um outro, tomar preguiçosamente um chuveiro, lá pelas nove da manhã. O chuveiro ficava perto do portão de entrada, e eis que ouço, lá fora, ordens militares! Fomos prudentemente espiar: O que não vimos! Soldados da Fôrça Pública vinham descendo de um caminhão militar, armados até os dentes! O kibutz estava sendo militarmente cercado! Depois, um capitão da Força Pública, em companhia do delegado de Polícia de Jundiaí e uma forte escola de "secretas" discretamente armados de fuzis-metralhadoras, vieram entrando pelos portões. Corremos a chamar o José Etrog, que, além de ex-funcionário público e oficial da reserva, possuia uma tremenda "lábia" . Afinal, a êle talvez não fuzilassem assim sem mais nem menos. . . Como era sábado pela manhã, o Etrog estava dormindo o sono dos justos. Foi arrancado da cama, levado para fora, e de pijama mesmo, empurrado a enfrentar os homens ... - O que havia? Um pasquim de São Paulo havia publicado dois artigos de fundo anti-semitas, alertando as autoridades sôbre um "campo de treinamento para terroristas judeus que se havia instalado nas proximidades de Jundiai". Possuiriamos inclusive armamento pesado, além de fuzis, metralhadoras, canhões, e até. . . submarinos, sim, submarinos! As autoridades haviam decidido investigar. O Etrog falou, gesticulou, falou, falou tanto, que apesar do aparato militar trazido, os dignos representantes da ordem pública acabaram se retirando sem mesmo revistar o kibutz, à procura dos submarinos.
A NOVA VIDA
– E o QUE aprendemos não foi pouco. Como trabalhar, estudar e viver, na vida do campo e em coletivo. Todos nossos belos princípios não eram suficientes por sí só: na experiência do dia a dia, . tínhamos que aprender como a natureza humana se adaptava às novas condições. Para o primeiro grupo, verde ainda em experiência, a hachshará foi uma revolução do primeiro ao último dia. A revolução do trabalho, da vida social, da cultura. De adaptar nossos corpos de estudantes e comerciários ao regime do dia de trabalho do camponês, nossas inteligências habituadas aos problemas do estudo e do pensamento ideológioo, às exigências práticas da vida do campo - exigências mais vastas, certamente, que as vividas anteriormente.
- Não tiveram nenhum sheliach de Israel, na hachshará, para orientá-los?
- Sim, durante alguns meses esteve conosco Abrão Neguev, do kibutz Revivim. Durante sua estada pressentimos pela primeira vez o que seria o nosso futuro "choque com a realidade de Israel".
- Bem, claro que todo grupo ao chegar a Israel sofre um processo de adaptação ao país que nem sempre é fácil. Mas que significava isto no Brasil?
- Você compreende, nós éramos o primeiro grupo do movimento a fazer hachshará. Pela primeira vez, realizava-se em nosso meio a expenencia da vida coletiva. Não éramos crianças, e decidimos tomar a coisa a sério. Nossa comunidadezinha implantara rigor e severidade nas relações mútuas. Passamos por um período de completa abolição da "individualidade". Não se ouvia falar no "indivíduo", nas necessidades do "indivíduo", em nossa hachshará. Os interêsses individuais deveriam ser sacrificados em pról dos interêsses coletivos. E pode crer, não fazíamos assim por dogmatismo. estreito, não. Era uma coisa natural, uma exigência profunda de cada um de nós, e todos se submetiam com rigor às novas condições de vida.
- Juntos comemorávamos nossas festas nacionais, juntos estudávamos ivrit, junto trabalhávamos, junto discutíamos, junto vivíamos as coisas pequenas e grandes da vida de cada um e da vida de todos, num comunismo absoluto.. O chaver nada exigia para sí e nem o coletivo faria quaisquer concessões. Recriamos as condições austeras das primeiras colônias coletivas, até na prática jesuítica da exposição íntima do indivíduo perante o coletivo., numa tentativa de aperfeiçoar e estreitar nosas relações mútuas. E ninguém, mesmo os mais sensíveis, sentia-se oprimido em semelhante atmosfera. Ao contrário, do íntimo de cada um partia o mais completo consentimento e convicção quanto à tal orientação.
E quando Neguev, o sheliach, nos mostrou que nos kibutzim de Israel tais coisas já haviam sido ultrapassadas há decênio.s, recusamos, indignados, a adaptar-nos.' Assim críamos, assim deveria ser. tste foi nosso primeiro estágio na vida coletiva.
- Em resumo, para considerarmo-nos preparados para a aliá, três eram os nossos alvos, e razoàvelmente os atingimos: Primeiro, formar um bom grupo de trabalho, habituado aos labores da vida agrícola. Segundo, um grupo atingindo uma amálgama social coesa e forte. Terceiro, um grupo com personalidade política definida, isto é, com conciência do que era, do que representava, e do que queria.
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